sexta-feira, 24 de junho de 2016

Capítulo 7



Jonathan entrou em casa quieto. Alessandra saiu do quarto e o viu sentado no sofá:

-E aí, o que queriam com você? –Perguntou ela mantendo uma distância segura. Ela não sabia o que havia acontecido e temia que Jonathan estivesse nervoso.

-Não sei. Acho que só queriam me mostrar que estão na minha cola. Foi louco! Ninguém veio falar porra nenhuma comigo!

-Como assim?

-Eu saí de lá sem autorização depois de meia hora e ninguém ainda tinha vindo falar comigo ou me impedir de sair.

Alessandra estranhou o comportamento dos policiais tanto quanto Jonathan, mas preferiu não falar nada:

-Trouxe comida?

-Tá aí na cozinha.

Alessandra passou a última semana pensando no que Jonathan tinha feito e em como ela poderia se livrar dele. Ela nunca quis acabar com um cara como ele. Os riscos eram altos demais e as vantagens baixas. Ela precisava conseguir descobrir um caminho para se aproximar do homem que fazia mais o tipo que sempre foi seu alvo: O vereador.

Jonathan a machucou muito e quando o efeito das bebidas e drogas passou, ele se arrependeu de ter feito aquilo. É estranho e contraditório, mas ele a ama. Na verdade é a combinação de amor e insegurança que faz com que ele haja dessa forma com ela:

-Vou precisar voltar para a boate hoje. –Disse Jonathan.

-Ah... ok... Posso ir também?

-Você quer ir?

-Quero.

-Tá... De repente aquele playboy tá lá e você descola um trabalho pra essa noite.

***

No próximo ano será ano de eleições e o vereador Antônio Teixeira já havia lançado sua candidatura a prefeito. Nos últimos meses ele estava se dedicando a cuidar de sua aparência e trançando o rumo de sua campanha.

O atual prefeito estava enfrentando sérios problemas com a administração financeira da cidade, além de ter que lidar com o aumento da criminalidade local. Para os encarregados pela campanha política de Teixeira, isso significava que a população está precisando de uma figura responsável, que mostre ser alguém preocupado com o bem-estar e que passe confiança:

-Senhor, nossa cidade é conservadora. Não me entenda mal, mas o fato de o senhor ser solteiro não ajuda em nada a vendermos a imagem que queremos. –Disse Karen Galdino, responsável pela imagem e relações públicas do vereador.

-Bom, eu não sou exatamente solteiro...

-Ah senhor, me desculpe, mas um casamento entre dois adolescentes que só durou 2 anos, não é bem algo que eu possa usar.

-Tá certa... –Respondeu ele rindo. –Bom, eu não sei como posso te ajudar com isso. –Completou ele rindo.

Karen olha para ele com cara de quem não está brincando:

-Olha, você não veio de uma família pobre, não tem esposa e nem filhos... Eu vendo imagem pessoal, não milagres. Já falei, se você quer conquistar os eleitores você precisa de uma família! De repente é até bom para nós que você comece um romance agora... Nossa! É isso! Te garanto que as pessoas vão adorar acompanhar uma linda história de amor bem no meio do período eleitoral... 

-Você é boa. –Disse o vereador rindo e apontando para Karen.

-Eu sei. –Respondeu ela rindo. –Precisamos arrumar alguém nova, mas não nova demais, bonita, carismática... É isso. Vamos começar a trabalhar nisso.

***

Mais uma vez Guilherme saiu do trabalho, foi para casa, jantou, se arrumou e foi para a boate. Mesmo com a incerteza da presença de Jonathan e Alessandra ele continuou indo lá noite após noite. Ele precisava consolidar a imagem que tinha passado nas duas primeiras vezes e, claro, não podia correr o risco de perder uma chance de encontrar com qualquer um dos dois.

Para ele era extremamente desgastante ir até lá e fazer todo aquele teatro, mas já era tarde demais para voltar atrás. Entre um gole e outro em sua bebida, ele ouve um funcionário dizer que o Jonathan chegou:

-Finalmente... – Pensou ele.

Logo em seguida ele se pegou dando um sorriso de lado pensando na possibilidade de Alessandra também estar lá. Ele não queria admitir nem para ele mesmo, mas a verdade é que ele havia curtido até demais a noite que teve com ela. Ele sabia que não podia se envolver de forma alguma com ela, então ele tentava afastar esses pensamentos.

Poucos minutos depois Jonathan sobe para a área V.I.P. acompanhado de Alessandra. Como da última vez ela estava linda e provocante. Guilherme respira fundo e se prepara para encarar mais uma noite.

Logo assim que chega à área V.I.P. Jonathan vê Guilherme e fala alguma coisa no ouvido de Alessandra. Em seguida ela olha para o detetive, abre um sorriso e vem andando na direção da mesa dele. Os quadris dela balançam suavemente dentro do justo vestido:

-Sentiu saudade? –Disse ela sorrindo e puxando uma cadeira.

-Você não é fácil... –Respondeu Guilherme sorrindo.

-Vou aceitar isso como um sim. Então, acho que você me deve uma bebida, não é mesmo?

Guilherme trata de chamar logo o atendente e pedir uma bebida para Alessandra. A conversa segue em tom de provocação até que ela finalmente sugere:

-Que tal sairmos daqui e irmos até aquele seu hotelzinho barato?

Não restava alternativa a não ser aceitar. E que grande sacrifício aceitar a um convite desse vindo de uma mulher como essa, não é mesmo?

Eles saíram da boate e novamente pegaram um táxi até o hotel de beira de estrada. Alessandra pensava em não perder a hora novamente e o detetive só pensava em como iria fazer para resistir a mais uma noite com ela. Não eram pensamentos interessantes e nem comuns para aquela situação, mas ambos tinham os seus motivos.

Por uma coincidência não muito incrível –visto que o hotel estava sempre vazio- eles pegaram o mesmo quarto da última vez. E como da última vez Guilherme se sentou na cama e ficou imóvel:

-Ah não... não me diga que vou ter que dançar pra você de novo... –Disse ela rindo.

Ele apenas fica sem graça e sorri.

-Eu não te entendo. –Continuou ela.

-O que exatamente você quer entender?

-Você na boate parece ser um e quando chega aqui parece ser outro. Na boate você faz o tipo que arrancaria minha roupa no mesmo segundo em que passássemos pela porta. Aí chegamos aqui e você fica nessa de fingir que não me quer e eu de fingir que não percebo que o garoto aí de baixo está pronto para a ação.

O detetive ri um misto de vergonha e desespero. Parece que só agora ele se deu conta que não consegue disfarçar o tesão que sente por ela:

-Então, o que você quer fazer? –Perguntou Alessandra sentando na cama.

-Não sei...

O silêncio tomou conta do quarto. Estava mais do que óbvio para os dois que nada rolaria naquela noite, mas ambos tinham que lidar com o fato de terem uma hora inteira pela frente:

-Você é linda...

-Obrigada... Eu acho...

-Como assim?

-De que adianta você me achar linda, eu te achar gostoso e ainda assim estarmos aqui sentados feitos dois adolescentes virgens?

-Foi um elogio. Não sabe reconhecer um?

-Elogio é o cara querer pagar uma hora a mais, é ele ficar exausto e com a respiração ofegante...

-Eu não consigo acreditar nesse seu teatro... Desculpa, mas não dá!

-Como é que é?

-Isso que você faz. Você fala que eu pareço ser duas pessoas diferentes mais você não fica atrás.

-Feri seu orgulho de macho?

Por algum motivo que eles desconheciam a conversa estava tomando um rumo inesperado. Mas tesão frustrado vira mau humor direcionado:

-Orgulho de macho? Você só pode estar brincando! Você fica aí, bancando a gostosona, a sei lá o que, mas da última vez que nos vimos você era outra. Nós ficamos tranquilos, conversamos, vimos TV...

-Você não me paga pra ver TV.

-Na verdade eu pago por você! Não importa se quero ver TV ou te fuder!

A essa altura eles já estavam falando bem mais alto do que gostariam e andando de um lado para o outro do quarto:

-Você é ridículo! Fica fazendo tipo, mas não duvido nada que seja mais um filho de papai querendo ser amiguinho do Jonathan e me usando pra isso! Eu tenho mais o que fazer!

-Você não sabe de nada!

-O que eu sei é que eu poderia estar com um homem de verdade agora, desses que sabem usar o corpo que tem e não com um frouxo!

Nesse momento Guilherme parte pra cima de Alessandra. Ele a pega com um braço em volta da cintura dela, a gira e a bate contra a parede. Seus corpos estão colados. A respiração ofegante dela pressiona seus seios contra o peitoral dele. Eles se encaram. Ele passa as mãos pela lateral da cintura dela, do quadril e quando encontram as coxas elas as puxam para o alto em um movimento que faz com que ela saia do chão e o abrace com suas pernas. Ele a beija no pescoço. Seus corpos fazem movimentos que alternam puro tesão e deleite. Ele a olha novamente. Tudo acontece rápido, mas eles sentem como se durasse muito mais. Ela morde o lábio. Testa com testa, nariz com nariz. Suas bocas estão cada vez mais próximas:

-Está tudo bem por aqui? –Disse uma voz do outro lado da porta enquanto a batia. –Recebi reclamações de barulho...

-Pelo amor de Deus! Estamos na porra de um motel! Quem reclama de barulho na porra de um motel? –Disse Alessandra frustrada por terem interrompido.

-Ok. Depois não vem querer reclamar! –Disse a voz.

Os dois se olham e riem. Se contassem ninguém acreditaria. Suas respirações ainda estavam ofegantes, mas aos poucos Guilherme foi demonstrando voltar a lucidez:

-Acabou, né? –Perguntou Alessandra fazendo pressão para baixo com suas pernas e as soltando de Guilherme.

-É...

-Ok...

Os dois tentam se recompor enquanto caminham para a cama. A frustração está visível nos dois:

-Qual é o seu problema? –Pergunta Alessandra de forma calma e confusa.

-O meu problema é que você me deixa louco. Eu queria estar com você de novo mais do que eu gosto de admitir, mas eu não posso fazer isso.

-Por quê?

-É complicado.

Alessandra não disse, mas o fato de ele conseguir resistir a ela fazia-a o querer tanto quanto ele a queria.

Depois de um tempo em silêncio eles resolvem que é melhor terminar a noite por ali. Ele a coloca em um táxi e depois vai pra casa.

Mesmo a noite terminando mais cedo do que o previsto, Alessandra prefere ir direto para casa. Ela entra e vai direto para o banho. Na última semana ela passou cada minuto pensando em como se livrar do Jonathan, pensando no que ele a tinha feito e em como usar o vereador como caminho para se ver livre daquela situação, mas naquela noite ela não conseguia pensar em mais nada a não ser no seu último programa, em tudo o que aconteceu, no que não aconteceu, no que ela gostaria que tivesse acontecido e, para sua surpresa, nos olhos daquele estranho cliente.

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